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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Uma vitória que serve de exemplo.

05/02/2012
Presidiários de Marabá são aprovados no Enem 2011

Quatro internos do Centro Regional de Recuperação Agrícola "Mariano Antunes" (Crrama) foram aprovados pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prestado em outubro de 2011. Tatiane de Souza Santos, Djanira Feitosa dos Santos, Catiane Santana Oliveira e Pedro Varão Sá Neto, todos atualmente com alvará de soltura, tiveram pouco mais de um mês de preparação no próprio presídio.
As aulas foram ministradas por professores voluntários da rede estadual, por meio de parceria entre a direção do Crrama e 4ª Unidade Regional de Educação (URE), para 10 presos que se inscreveram no exame.

Segundo a coordenadora pedagógica Roberta Araújo, que presta serviços no presídio e é a principal responsável por incentivar os presos a se inscreverem, os internos que não concluíram os estudos e foram aprovados agora podem conseguir essa certificação por meio de suas notas. “Eles tiveram aulas de todas as disciplinas durante um mês. Foi uma espécie de cursinho antes do Enem. Foi pouco tempo de aula, mas isso já trouxe resultados", comemorou.

Exemplo
Para Roberta, os resultados são um incentivo aos demais que também têm a intenção prosseguir nos estudos. “A partir do momento em que eles fizeram e foram aprovados, os outros internos nos procuram dizendo que querem fazer o próximo”, afirmou.

Ela conta o presídio já conta com uma turma inscrita no programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). Os alunos têm aulas diárias e estão matriculados entre a primeira e a quarta séries do ensino fundamental. A previsão é de que em março sejam implantados também de quinta a oitava séries e o ensino médio. “É realizada uma triagem entre quem tem interesse e, a partir disso, eu faço a ficha deles e a matricula, colocando-os em alguma série”, informou. Atualmente são 62 alunos tendo aulas.

Entre os quatro aprovados, Pedro Varão é o único que já faz um curso fora do presídio. Ele também foi aprovado no Enem de 2010 e, desde então, está matriculado em um curso técnico de Segurança no Trabalho. Além das aulas, o presídio conta também com uma biblioteca onde os presos têm acesso aos livros que utilizarão para estudar. “Quando eles levam os livros para as celas e fazem um resumo há ainda a remissão da pena. Atualmente são 30 internos que estão cadastrados na biblioteca”, explicou a coordenadora.

A interna Djanira, de 35 anos, só fez o exame porque Roberta insistiu muito para que ela entregasse seus documentos e fosse inscrita. Ela tinha medo de não conseguir sair-se bem devido ao tempo em que permaneceu longe dos bancos escolares.
“Fazia uns 20 anos que eu não estudava e aqui dentro é muito complicado para estudar. Eu não sabia se ia conseguir ou não, por isso é uma gratificação ter conseguido”. Agora que provou para si mesma que é capaz de conseguir bons resultados estudando, ela pretende ir além e continuar estudando para, se possível chegar a cursar Direito.

Tatiane, de 25 anos, estava desde os 20 sem frequentar a sala de aula e surpreendeu a muitos conseguindo alcançar a média 8 na redação. A nota, considerada boa, também deixou ela incentivada para continuar adiante. "Foi muito gratificante e eu fiquei surpresa com meu resultado".

Ela relatou que é difícil conseguir um espaço e concentração para estudar quando se está na cadeia. "É difícil se concentrar porque tem muito barulho. Então, eu me empenhava de madrugada, quando todo mundo estava dormindo", recordou. Para não atrapalhar o sono das colegas ela se trancava no banheiro com a luz acesa. "Eu fiquei muito feliz porque foi uma forma de mostrar para mim mesma que sou capaz, apesar de estar presa".

A moça é mãe de dois filhos e o fato de gostar muito de crianças contribuiu para o desejo de um dia sair da prisão e conseguir cursar Pediatria. Se conseguir, ela também estará realizando um dos principais desejos do pai. “Ele sempre quis ver pelo menos um dos filhos formado", revelou. (Luciana Marschall)



Para diretor do Crrama,a sociedade é que ganha

O diretor do Crrama, capitão PM Emmett Alexandre Moulton, acredita que quem mais ganha com a situação é a sociedade. "A educação é o caminho para quem quer ser alguém na vida. Ela transforma pessoas e isso com certeza vai transformar a vida deles. Daqui a pouco eles estarão formados e trabalhando". A qualificação traz mais oportunidades de emprego, um dos principais empecilhos para quem acaba de sair da prisão. "Eles estão de parabéns porque a gente sabe da dificuldade de se estudar dentro do cárcere. O que a gente tenta fazer aqui é dar todos os meios possíveis deles estudarem”, garantiu.

Se a média de internos aprovados no Enem continuar aumentando, em breve muitos terão reais chances de chegar a uma universidade. Em 2010 apenas um preso conseguiu ser aprovado, enquanto no último ano, além dos quatro que foram aprovados, muitos tiveram bons resultados, geralmente esbarrando em apenas uma disciplina.

“Eu observo que muitos dos que estão aqui foram presos por falta de oportunidade na vida. Mesmo que não justifique um crime, muitos realmente caíram nesse mundo porque não tinham nem como sustentar a família", observou o diretor.

O diretor da 4ª URE, Pedro Souza, declarou que o EJA havia sido implantado apenas nos presídios de Belém e o Crrama é o primeiro a receber o programa no interior do Estado. “Isso é o mínimo que o Governo deve oferecer já que a educação é um direito de todo cidadão”, enfatizou.

A respeito das novas turmas que serão implantadas neste ano, o diretor explicou que tudo funcionará como em uma escola normal, com aulas diárias. “Isso é muito importante para a reinserção social dessas pessoas. Uma pessoa que consegue sair da prisão para uma universidade está dando um grande passo”, comentou.

Segundo ele, a demanda no Crrama é muito grande, porém é preciso lembrar que existem critérios a serem respeitados durante a triagem dos presos que serão matriculados. “Eles precisam estar em regime semi-aberto, apresentar boa conduta e estarem interessados em aprender”, ressaltou. (L.M.)

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